segunda-feira, 22 de novembro de 2010

15º Capitulo

Alguns anos antes:

Fernanda ficou surpreendida com a oferta do homem que durante tantos anos foi para si o seu companheiro, amante, amigo, confidente e também pai da sua filha.
Estaria Abel a redimir-se pelos anos que passou ao lado daquela mulher, a mesma que durante tantos anos prejudicando a sua vida pessoal, em detrimento do homem que sempre amou.
Não era fácil deitar tudo para trás, um passado de momentos lindos e desfrutados até ao mínimo pormenor. Também foram muitos os momentos de angústia e tristeza que em silêncio permanecia sem que, Abel compreendesse o seu estado, mas, o seu grande objectivo era ver o seu grande amor feliz.
A reunião terminara como começara, envolta em choro, lágrimas que transbordavam sentimentos incompreendidos nem merecidos.
Fernanda talvez pensara que um dia, esse dia… que nunca chegava.
A proposta foi muito boa para a então secretária de Abel, ao aceitar, as suas responsabilidades para com a empresa também aumentavam, sem falar na vertente económica, que seria muito vantajosa.
Abel mudou-se para a capital, onde ficava a sede de todas decisões.
A casa que durante muitos anos pertenceu a Abel e Inês, foi doada à filha Beatriz, sua única herdeira, onde passaram a morar, mãe e filha e as duas empregadas.
Beatriz ainda não tinha completado dez anos, via-se assim impedida da companhia diária do pai e da mãe. Por vezes, durante a semana, Abel visitava a jovem à saída do colégio, levando-a a casa, sempre com a permissão da mãe.
Durante algumas horas fazia-lhe companhia, matavam as saudades, porque a sua vida profissional não lhe proporcionava momentos livres para estar com a sua filha.
Abel nunca conseguiu ultrapassar o trauma da morte da esposa e o desaparecimento do filho, o trabalho era o melhor antídoto para a sua cura. Os maus pensamentos, como as várias tentativas de suicídio que levara ao acabo, após a morte da esposa, da confirmação por parte das autoridades que, seu filho estava morto.
Durante as buscas que as forças policiais fizeram quando desmantelaram a organização, quando Pantera e Sardinha foram também capturados, o corpo de uma criança foi encontrado num terreno baldio.
Os restos mortais foram directos ao jazigo de família que Tobias e Celeste possuíam no cemitério de Lisboa.
Abel os primeiros meses passou por duas tentativas de suicídio, uma por enforcamento, não concluída e outra por ingerir uma quantidade substancial de medicamentos tóxicos de origem animal.
Quis o destino que a empregada, estranhasse a hora da chegada, naquele dia a casa o patrão, alguns minutos depois, procurou-o por todo o lado, no sentido de lhe solicitar uma informação adicional.
Após várias tentativas de chamar pelo seu nome, foi até à casa de banho do quarto, e a tragédia tinha acontecido, rapidamente ligou o 112, alguns minutos depois Abel estava a ser transportado para o Hospital.
Esteve hospitalizado algum tempo, pois os médicos tinham receio que voltasse a cometer outra loucura igual ou pior que aquela.
Fernanda entra então em cena, uma boa razão, eu finalmente esperava onde pudesse demonstrar o seu grande amor pelo homem, seu chefe profissional.
A segunda tentativa, decorrera quase um ano depois, foi quando recebeu a notícia que iria ser pai, Fernanda tinha engravidado de Abel. Sem conseguir aguentar a pressão da notícia, de novo o seu inconsciente veio à tona, tinha cometido um enorme pecado contra a sua falecida mulher.
Num dia calmo, Abel saiu do seu gabinete e dirigiu-se aos lavabos da empresa, a secretária estranhou a demora, ao que, de quando em vez colocava o seu olhar em direcção aos mesmos.
Vendo que estava a levar tempo demais, levantou-se e seguiu na mesma direcção e bateu na porta chamando pelo seu nome:
- Doutor Abel! – Doutor Abel!
Não surgiu qualquer resposta, a mulher chamou por um colega que estava numa das caixas:
- Ó Paulo chega aqui por favor!
O empregado ao ver a secretária bastante aflita, deslocou-se até ao local e:
- O que se passa Fernanda?
- Entra lá para ver como está o gerente!
- Mas porquê?
- Faz o que te estou a pedir por amor de Deus Paulo!
O jovem ao entrar, a porta dos sanitários estava obstruída, foi quando ouviu um barulho esquisito, de algo a cair.
O jovem bateu, bateu, bateu na porta sem êxito, já Fernanda tinha também entrado nos lavabos dos homens, a gritar:
- Arromba a porta, arromba a porta…
- Por …favor…Paulo… a… porta…
O jovem com um pontapé arrombou a porta, foi quando deram com o cenário de tragédia, Abel encontrava-se pendurado com o cinto das suas calças em volta do pescoço, que por sua vez passava pelos canos da canalização de águas que abastecia os lavabos do edifício.
Paulo pegou nas pernas do gerente levantou-o, enquanto que, os gritos despertavam a atenção curiosidade de alguns clientes, que, ajudaram a retirar o cinto, possibilitando que o suicida desobstruísse as vias respiratórias.
A recuperação foi longa, Abel não tinha vontade de viver, Tobias e Celeste também sofriam em silêncio a agonia do genro. Sabiam como era doloroso o seu sofrimento perder um filho em fase adulta era diferente que perder um filho de tenra idade, e respectivos acontecimentos.
Durante todo o tempo Fernanda nunca largou pé do homem que amava, mesmo grávida, assumiu um papel preponderante na recuperação ao activo e à vida.
Acção que muito sensibilizou os sogros de Abel e os pais.
O nascimento de Beatriz, veio trazer uma golfada de ar puro na vida de todos, a criança foi adoptada, como neta, pelos pais de Inês, enquanto que o senhor Mateus e dona Assunção estavam radiantes, sabiam do caso amoroso que ambos mantinham.
Tudo foi feito de acordo com mandamentos católicos, Tobias foi o que mais incomodado ficou no início, mas, sua esposa, dona Celeste, tinha o dom do bom senso, fazia entretanto, ver ao marido, o lado positivo da questão.
Como seria ter aquela criança e poder dar-lhe um pouco do seu amor contido dentro dos seus corações despedaçados.





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