Os anos passavam a correr, Abel nunca prometera a Fernanda uma relação sólida e duradoura, nem nunca prenunciara a palavra casamento nem união de facto.
Os dois iam aproveitando todos os momentos que tinham ou que a vida lhes proporcionassem, sem dramatismos, sem chantagens, sem obrigações de…
O pormenor filha estava acautelado, até porque esta era a legalmente a sua herdeira e também duma fortuna incalculável, fortuna por direito ao pai Abel, fruto do seu casamento com a filha do ex-presidente da instituição bancária.
Abel era por esta altura o rosto da presidência e toda a sua fortuna passaria mais tarde para Beatriz por direito legal.
Fernanda manteve a sua relação amorosa com Abel, alguns anos depois, Tobias em reunião de accionistas propôs a nomeação de Abel para a presidência do grupo, pelo que foi nomeado por maioria absoluta.
Muito teve em conta o seu passado como gestor e dinamizador de passivos por activos, na venda de produtos inovadores fazendo jus à sua gestão que captava lucros a todos os accionistas anualmente acima do previsto.
Com a chegada à presidência de Abel na instituição bancária, Fernanda, pensara que chegara o momento de ser compensada pelo amor e dedicação dados ao único homem e amor da sua vida.
Iria ocupar, finalmente o papel de esposa na vida de Abel, mas seus desejos e anseios se esfumaram.
Abel pega no telefone e liga, do outro lado responde uma voz feminina:
- Sim doutor!
- A Fernanda não se importa de chegar ao meu gabinete!
- Não Doutor. – É para já.
Fernanda é então chamada à presença do então presidente do grupo para lhe informar das decisões que estava a levar a cabo na instituição. Bate à porta:
- Posso entrar doutor?
- Sim. – Fecha a porta por favor Fernanda!
Abel olhou para Fernanda:
- Senta-te.
- Com licença!
Abel olhava para Fernanda, e colocava os olhar sobre os documentos que tinha em cima da secretária, parava e olhava outra vez para a mulher:
- Bem…
-Tenho aqui entre mãos um caso bicudo!
Fernanda sorriu, julgando que era uma das suas piadas secas, e responde:
- Bem o que é bicudo, também se torna chato…
- Claro que sim. É bastante chato o que tenho para te dizer Nanda.
- Nem sei como começar, mas o certo é que tenho que o fazer e dizer.
- Espero que compreendas a minha posição e não compliques a decisão final.
Fernanda, conhecedora do homem que tinha em sua frente, foi ombro confidente de muitos anos, sabia que vinha algo fora do anormal:
- Bem diz lá uma vez por todas o que está a inquietar?
- Tens razão, está bem vou direito ao assunto!
- Tenho duas propostas para te fazer!
-Uma má outra boa.
- Por qual queres que comece?
Fernanda respondeu:
- Começa pelas más notícias primeiro.
- Bem… há quantos anos estamos juntos?
- Não sei, talvez há dezoito anos!
- Mas porquê essa pergunta?
- Bem… é que… eu…
- Bem… resolvi…
Fernanda estava convencida, que finalmente Abel a pedia em casamento, tudo indicava no seu subconsciente que o embargo de voz trazia essa proposta, que, a levou a agarrar nas mãos e dizer que sim sem que este tivesse terminado a frase:
- Sim meu amor, eu aceito o teu pedido de casamento.
-Se soubesses o quanto desejei este dia!
Abel retira as mãos de entre as dela num safanão, ao mesmo tempo que se levanta da cadeira:
- Não… não, entendes-te mal…
- Não é isso que eu quero dizer.
Fernanda sentiu o coração a bater com tanta intensidade, parecia que ia explodir:
- Mas… eu pensei que…
- O meu Deus, o que estás para ai a engenhoca?
Abel andava de lado para lado sem saber como dizer, até que:
- Entre nós está tudo acabado.
- Hai, hai…
- Não podes estar a falar a sério, depois de tantos anos….
- Depois de tantas noites a tua cama aquecer…
-É desta forma educada que tratas-me?
Os dois mantiveram a conversação durante duas longas horas, até que a secretário limpou as lágrimas e regressou à realidade da vida.
- Eu nunca te pedi nada Nanda.
- Sabes que dentro do meu coração tens um lugar muito especial.
- Eu nunca deveria deixar este assunto se arrastar por este tempo todo.
- Perdoa-me eu ser sincero contigo.
- Ainda podes refazer a tua vida, ao meu lado é uma perda de tempo.
- E a nossa filha?
- Isto nada tem a ver com o bem-estar dela.
- Ela é e será sempre nossa filha, eu farei sempre como sempre fiz.
- Agora só falta mandares-me embora do emprego para veres-te livre de mim duma vez por todas.
Abel reponde frontalmente e olhos nos olhos:
- Engano teu, uma situação nada tem a ver com outra.
- Tu és uma excelente profissional.
- Como tal, a instituição premeia quem mais se dedica.
- Quem se entrega e veste a nossa camisola com amor.
Os minutos foram passando, muitos temas foram abordados, nada ficou por dizer, tudo esclarecido com os pontos nos is.
- Por tudo o que passamos alheado ao teu profissionalismo propôs em assembleia de accionistas o teu nome para gerir a dependência da Vila de Ribeira Dão.
- O que achas da proposta?
Fernanda pensou durante alguns minutos até que:
- Isso nada tem a ver com a anterior conversa?
- Claro que não!
- Uma coisa não interfere na outra!
- Tu conheces-me bem para saber quando digo as coisas de forma clara e sincera.
- Com assuntos destes não se pode brincar.
- Estaria a colocar o meu nome, a minha posição em causa para além da minha ética.
- Como seria eu visto aos olhos dos accionistas?
- Não posso ser incauto!
O tempo passava a correr, a conversa ia longa, finalmente Abel quis saber a opinião da então sua secretária:
- Então Nanda! – O que dizes da minha proposta?
A Fernanda olhava nos olhos do seu grande amor, o ardor do vidrado dos olhos faziam com que, mais algumas lágrimas caíssem pelo rosto abaixo, criando uma camada de resíduos multicolores provocados pela maquilhagem subtil que usava.
A resposta não poderia ser adiada e:
- Sim aceito. – Mas com uma condição!
Surpreendido Abel pergunta:
- Condição!
- Qual?
Fernanda segredou-lhe ao ouvido algumas palavras que:
- Não, não, não…
- Nunca, o farei é um objecto pessoal.
- Tem grande significado sentimental…
- Se for por isso…
-Podes então recusa o lugar.
- Eu nunca o farei!
Como Fernanda não conseguiu demover Abel sobre o que tinha segredado instantes antes, concluiu. Abel numa fracção de segundo abriu a porta do seu gabinete e:
- Pronto sem acordo, nada mais temos a dizer!
- Espera.
Dirigiu-se na sua direcção e fechou de novo a porta:
- Está bem.
- Se não queres, não posso obrigar.
- Aceito mesmo assim o lugar que me ofereces.
- Pois será uma honra poder ser útil em outro cargo na empresa.
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