segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Filhos sem lei (9º Capitulo)

Pantera fora um entre milhares de casos, erro de estado. O jovem, mais uma das vítimas da guerra colonial, viu sua família ser massacrada juntamente com os habitantes da aldeia onde morava.
As tropas portuguesas, depois de terem estado debaixo do fogo da guerrilha anti-opupação, após ser reforçada, avançou em direcção aos agressores, no caminho foi encontrado uma aldeia onde aconteceu a dizimação de toda a população.
Pantera tinha na altura apenas quatro anos de idade, presenciou todo aquele horror onde o seu povo e sua família foram assassinados sem dó nem piedade.
Naquele final de tarde, viu o seu pai, mãe e os dois irmãos serem mortos trespassados por balas portuguesas, entre choros e gritos.
Alguns habitantes da aldeia ainda conseguiram fugir para a selva, mata densa onde a dificuldade de penetração era um problema para qualquer pessoa não habituada ao seu quotidiano. Local onde horas antes sofreram grandes confrontes militares.
A jovem criança, que fora agarrado por um adulto pela farpela e colocada a salvo pelos fugitivos do horror das chamas e munições, que todos conseguiam ouvir, vindo em sua direcção pela mata dentro.
Depois de muito fugirem, o jovem ficou entregue a um casal que escapara com vida, passaria a fazer parte daquela família de cinco pessoas, entre as duas dezena em fuga.
No dia seguinte, os fugitivos voltaram à aldeia para reaver os seus pertences, estava destruído, as palhotas ardidas, corpos mutilados e decapitados por todo o lado.
O cheiro a carne queimada era intenso, tudo perderam aquelas pessoas, velhos, novos, crianças, adultos e mulheres, os poucos que restaram, partiram, muitos deixaram para trás uma vida.
Não valia a pena continuar a lutar, pois estavam debaixo de dois fogos, os que lutavam pela independência do país e as forças de ocupação, que lutavam por algo que também eram contra, mas, obrigados pelo então regime de Portugal.
As duas dezenas de sobreviventes da aldeia, durante dias correram quilómetros, até que, finalmente, cheios de fome, sede, também alguns com ferimentos, necessitando de cuidados médicos.
Um campo de apoio para refugiados, estava ali mesmo à frente, depois de alguma triagem, pelo efeito dos ferimentos e outras doenças, a alimentados e o agasalho como um canto para descansar depois de tudo o que tinham vivido nos últimos dias.
Chegavam ao campo principal que ficava na capital daquele país Africano, milhares de refugiados vindo de todos os campos interiores brancos e negros, portugueses e seus descendentes chegavam aos milhares todos os dias.
O governo nacional mandou, mandou evacuar todos os portugueses e descendentes, também um número bastante considerável de Africanos, foram colocados em aviões e enviados para o território português, sendo que Pantera e a sua família adoptiva seriam dos primeiros não descendentes a fugir do seu país.
Nunca lhe foi dada a nacionalidade de cidadão português.
Desde os quatro anos, sem nada, nem ninguém da sua família biológica, órfão duma guerra estúpida, onde morreram milhares de guerrilheiros que lutavam para o seu país ser livre dos senhores feudais, que na maior parte tratavam os negros como escravos.
Em Portugal, os retornados, foram encaminhados para partes diferentes do país, aqueles que tinham familiares em determinadas povoações foram lá colocados.
Os outros que nada tinham, que tudo lhes foram roubados ou destruído, foram acomodados em bairros mandados edificar para acolher este povo todo.
Casas de pré-fabricado, em zonas fora das populações, sem que fossem integrados socialmente. Entregues ao seu próprio destino, apenas com emprego temporário prometido, em organismos públicos, administração central e local.
As autarquias, por todo o país, foram as que sofreram aumentos bastantes consideráveis, tornando-se nas principais empregadoras para toda aquela gente que perdera tudo do que nos países Africanos possuíam, aquando a guerra de ultramar.
Por essa altura, uma grande avalanche de funcionários, fizeram disparar os quadros do erário público, sendo que, as grandes metrópoles e as limítrofes, fossem as mais contempladas devido à sua implantação nas simetrias estarem mais perto de tudo, em especial as zonas do litoral sul.
O bairro onde Pantera crescera com a sua família adoptiva, não era de todo o mais agradável, era multirracial, nele viviam várias religiões, etnias e raças, causando assim um enorme mal-estar entre os seus moradores, que foi crescendo com os anos.
O estado português mandou construir estes bairros sociais, de forma a acolher milhares de refugiados (retornados), por todo o território nacional.

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